A VOLTA AO LAR
- Flavia Torres
- 6 de jan. de 2017
- 3 min de leitura
Abandonar uma carreira profissional para cuidar só da família pode ser um retrocesso, mas é um caminho que muitas mulheres estão tomando por necessidade ou opção
O movimento pela libertação da mulher, ou pela igualdade entre os sexos, criou uma esquisitice. Passou-se a considerar que ser gente de verdade, respeitada por seus pares a mulher tinha que trabalhar e investir na sua carreira. As que preferiram permanecer em casa cuidando da família eram menosprezadas. Muitas passaram a se sentir culpadas, por não dar atenção devida aos filhos ou por não conseguir se dedicar ao trabalho como gostariam. “Hoje se sabe que a mulher pode muito bem trabalhar e cuidar da casa sem sentir culpada coisa nenhuma. Sabe-se também que ela pode se manter atualizada e jovial mesmo sem trabalhar fora de casa. As que optaram pela dedicação total à família não perdem o brilho social necessariamente”, diz Maria Rita Lemos, psicóloga clínica que se dedica ao estudo de famílias.
Não deve espantar ninguém o fato de não existirem estatísticas sobre mulheres que deixaram a profissão para se dedicar ao lar. Sabe-se que elas não são muitas. Mas a impressão de psicólogos especialistas em família é que o número vem aumentando. Há mulheres que não gostam de se sentir dependentes financeiramente. Outras convivem bem com isso. “Essas estão mais à vontade para escolher o quer fazer da vida, como se sentirão mais felizes”, explica a psicóloga Magdalena Ramos, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, coautora do livro E Agora, o que Fazer? A difícil Arte de Criar os Filhos.
Para mulheres cujo trabalho é pouco instigante, burocrático e mal remunerado, a opção não é assim tão complicada. Para outras, é uma revolução. Maria Beatriz raposo tem 33 anos e duas filhas: uma de dois anos e meio e a outra recém-nascida. Seu marido é administrador de empresas e trabalha num banco. Ela, também administradora, recebia um salário de cerca de 4.000 reais, três anos atrás. Então desistiu do escritório e resolveu dedicar-se ao lar. “Minha prioridade sempre foi a família. Nunca a profissão.Quando engravidei, não tive dúvida: larguei tudo”. Problemas, é claro, existem. “Agora que Beatriz fica o dia inteiro em casa, tudo perfeito: a comida, a roupa e a limpeza. “De vez em quando tenho que engolir uns sapos, mas não me arrependo da decisão que tomei”, diz.

Dona-de-casa e poetisa
A paulista Adriana Costa Camillo Palandi, de 38 anos de idade, era bancária na época que se casou aos 23 anos. Seu marido, professor universitário, sempre ganhou mais que ela. Não havia problema quanto a isso, mas quando Adriana engravidou, dois anos após o casamento, a opção pela família foi fácil. “Ela não teve dúvida: largou tudo para cuidar da casa. “Eu me sentia mal só de pensar em deixar a minha filha com estranhos”, lembra-se. “Hoje faço cursos, escrevo poesias e cuido de casa. Não penso em voltar a trabalhar. Gosto de ser dona-de-casa”, confessa.
Adriana e sua família: sem remorso.
Por fora do mundo

Andrea De Callis é formada em marketing e tem pós-graduação em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Por dez anos trabalhou na montadora de automóveis Ford. A executiva organizava os eventos promocionais da empresa. Trabalhava mais de doze horas por dia. Seu marido, que é médico, ficava mais tempo em casa que ela. Quando abandonou o emprego há um ano, ganhava mais de 4mil por mês. Hoje, aos 34 anos, com um filho de 4, diz que está feliz com a decisão. “Vivia atormentada e sob pressão. Meu filho chorava sempre quando eu saia, e me sentia culpada por não ficar ao seu lado”, explica. Prejuízos que ela percebe: sua família tem menos dinheiro para viagens, ela perdeu a independência financeira e já não sabe o que acontece no mundo. “Estou meio desinformada”, observa. As vantagens: o relacionamento familiar melhorou, o filho está mais tranquilo e seguro e a
casa é administrada com eficiência.
Andrea e a família: o filho já não chora quando ela sai de casa
Comments